terça-feira, 28 de outubro de 2008

Insensibilidade


O sentir perdeu o sentido,

Frieza e insensibilidade vão ocupando seus grandes espaços.

Não há porque empolgar-se diante de grandes façanhas,

Tudo é comum,

Sem graça.

E a vida vai se tornando repetitiva,

A mesma atividade no mesmo horário de todos os dias...

Mesmo rosto,

Mesmas idéias,

Nada de renovação.

Quem, por um acaso, ousar roubar essa “tranqüilidade”,

Com um grito, talvez,

Arderá no mármore da exclusão

E será apelidado negativamente de sonhador,

Idealista,

Incapaz...

Abaixo os sensatos,

Organizados,

Cautelosos,

Puristas...

Viva os desapegados,

Loucos,

Amantes da vida!

Chega dessa linearidade absurda,

Angustiante,

Cortante...

Vivamos!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Um brinde

Hoje vou oferecer um brinde...

Um brinde aos que beijam e sorriem a cada encontro,
Aos que abraçam e gemem na despedida,
Aos que, mesmo chorando, são capazes de sorrir...
Aos que, mesmo sorrindo, são capazes de fazer brotar as lágrimas mais cobiçadas...

Ofereço um brinde aos que dizem a verdade segurando as mãos,
Aos que fazem análise sem receber pagamento.
Aos que ouvem, mas também sabem falar,
Aos que magoam e que também sabem perdoar...

Hoje quero festejar com as mais profundas palavras
A alegria de poder brindar a existência...
Existência de pessoas fiéis,
Companheiras,
Intensas...
Capazes de enxergar a vida com a luneta mágica da bondade...

Quero brindar àqueles que me deixam saudades quando longe,
Que me trazem felicidade quando perto,
Àqueles capazes de aquecer as noites mais frias,
E amenizar o calor das noites mais quentes...

Hoje desejo isso apenas:
Um brinde aos que posso, com orgulho,
Tê-los sempre ao meu lado...
Agradecendo-lhes, com esse gesto,
O que me doam sem limites
E que a recebo como a maior das preciosidades:
Que é a verdadeira amizade!


sábado, 11 de outubro de 2008

Concha da Inércia

Tantas vezes estática
Observando o tempo passar
Como se o tempo fosse algo concreto
Capaz de enxergar meu eterno aceno.

Sentada à beira-mar,
À beira-rio,
À beira-avenida,
À beira-tudo,
Só para observar o mundo caminhar.

Invisível aos olhos dos que agem
Pernas pesadas para andar,
Mente estática, mas tranqüila,
Esperando a o melhor momento de ultrapassar...

Ultrapassar a beira....
Beira-rio
Beira-avenida
Beira-tudo
Beira-mar.

Matéria desobediente ao espírito,
Discurso que se perde a cada gesto,
Impossível feição de angústia ou felicidade,
O mundo não incomoda mais.

Observar...apenas observar...
O velhinho que passa,
O jovem que dança,
A menina que chora...

O que importa?
Minha inércia continua
Nem felicidade, nem infelicidade me angustiam,
O mundo continua a girar.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Não acredito nos mortais

Do que adianta construir e reconstruir tua imagem?

As pérolas que resgatei são invenções minhas

Nunca existiram.

Vivi um sonho,

Como todos aqueles que insisto em reproduzir mesmo com olhos abertos.

Mas o sonho acabou

E é preciso seguir em frente.

É preciso esquecer as cores que pintei

Tenho que deixá-lo preto, branco, cinza.

E, lutarei ainda, para acabar com a nitidez de cada imagem.

Só não descobri ainda como apagar o brilho daquela lua...

Das estrelas...

Do sol...

Como esquecer a cor daquele espetáculo que preparei minha alma para recebê-lo...

Não

Eu também não acredito nos mortais.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Caminho da felicidade

Saí para ser feliz

E nunca mais voltei,

Pois o caminho para a felicidade é tortuoso demais.

Disseram-me que eu deveria caminhar a pé...

“Mas o caminho é longo demais”

Respondi eu.

Disseram-me, ainda, que eu deveria caminhar com pés descalços.

“Mas o caminho tem pedras demais”

Novamente respondi eu.

Disseram-me que eu nada poderia levar comigo:

Nem água,

Nem roupas,

Nem alimento.

E eu ainda ousei responder:

“Dessa forma morrerei antes de chegar lá.”

E foi por isso que desistiram de ensinar-me o caminho.

Nunca fui capaz de contentar-me com as dificuldades,

Com as angústias,

Com os tormentos...

Minha morte teria sido muito mais bela

Naquele longo caminho,

Pisando em pedras,

Sem nada no corpo.

Agora estou eu aqui,

Morrendo

Sem ao menos ter tentado.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O casamento e a morte


Alguns acreditam que o casamento é o que há de mais belo na vida,

Eu não... para mim, a morte é muito mais bela.

O casamento é superficial, dias e dias de preparo,

Em busca da beleza e da perfeição inexistente.

A morte já é perfeita, bela por natureza, não exige dedicação...

Surpreende com vigor...

Casamento? Todos sabem o resultado...

Começo bom, meio médio, final ruim...

Nunca é como se sonha...

Vezes é até bem representado em alguma novela...

Mas a morte não!

Ela é um mistério, e só em pensá-la

Dá aquele frio na barriga,

Aquela ânsia de adivinhação...

Nem a arte, mais bela de todos os sentidos, conseguiu desvendá-la, demonstrá-la...

Casamento só fica na lembrança de quem protagonizou...

A morte fica na alma daqueles que estiveram presentes antes da sua chegada,

Daqueles que esquecerão as mágoas do ser que a morte levou.

Casamento é tudo igual,

As mesmas cores,

Os mesmos rituais...

A morte... nunca se sabe como ela vem... é única, indescritível.

Sim, talvez seja desnecessário comparar aspectos óbvios...

Mas, pense!

O casamento ninguém sabe quando virá, se é que virá...

A morte é nossa única certeza...

É por isso que todos os dias me arrumo:

Roupa,

Brinco,

Sandália,

Para receber elogios...

Pois só assim terei a certeza de que, quando ELA chegar,

Estarei bela, como nunca.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Liberdade


Preciso abrir os braços!

A tecnologia avança,
As pessoas enriquecem,
O país se transforma,
A natureza surpreende...

Mas a única coisa que desejo é abrir os braços.

As crianças já estão mega informadas,
Os jovens vivem ilimitadamente cada momento,
Os adultos lutam para alimentar o capitalismo,
Os idosos aproveitam seus últimos instantes de vida.

E Eu...
Continuo sonhando com o dia em que abrirei meus braços.

A máquina já é mais “útil” que o homem,
Os valores humanos ficaram no século passado,
A busca pela beleza exterior já superou a busca pela beleza interior...

E meus braços continuam fechados, esperando uma oportunidade...

Pessoas buscam melhores empregos,
Melhores salários,
Vida tranqüila,
Alegria infinita...

Eu continuo buscando abrir meus braços...

A modéstia superou a humildade,
O terreno superou o divino,
O desejo superou o amor,

E eu aqui sonhando... sonhando em abrir meus braços!!!


quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Ser poeta


Descobri que ser poeta

Não é perder-se em meio a palavras bonitas,

Nem, ao menos, achar-se entre os elogios feitos aos belos escritos...

Não é saber construir rima ou aliteração...

Ser poeta já traz implícito...

É ser

Simplesmente Ser.

E o ser não apenas escreve “poesia”

Lê poesia

Ou diz “poesia”

O ser vive poesia.

Faz um verso de cada dia,

Estrofes de cada etapa,

E um lindo poema no fim da vida.

Assim, podem-se deixar mil escritos...

Mas o poema que o deixará na história

É justamente aquele...

Construído na aspereza

Ou alegria

De cada amanhecer...

Meu coração

Cheguei a pensar que meu coração fosse viniciano,

Outras vezes pensei que fosse florbeliano,

Imaginei, ainda que pudesse ser maiakovskiano,

Cheguei a pensar que ele fosse, simplesmente, pós-moderno.

Não,

Meu coração não tem estilo.

Adapta-se ao vazio de modo belo

E no moldar-se de cada dia

Constrói suas muralhas que buscam alcançar o céu...

Talvez o resultado seja o mesmo da Torre de Babel

(ou não).

Quem sabe alcance o céu azul,

E num dia de chuva possa sentir as gotas mais grossas,

Possa tocar as nuvens cinzas e desmanchá-las como algodão...

Quem sabe alcance o céu

E possa conhecer São Pedro,

Santa Clara,

Santo Diego,

Todos os santos que na terra falam...

E se a muralha bem alta for,

Quem sabe meu humilde coração possa marcar uma audiência com Deus,

Partilhar suas angústias,

Suas dores...

E, quem sabe, Deus possa receitar um remédio

Que cure o mal que dominou meu presidiário coração.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Olhares que fazem gemer

De dor, de alívio, de prazer,

Fixados nas imagens que não marcam,

Imagens simples, vagas, ou sem sentido,

Imagens que passam.

PAI

Teus olhos sempre apontaram meus erros e meus acertos

Tuas mãos calejadas sempre me fizeram refletir

Antes de reclamar de meu trabalho

Tuas histórias sempre me fizeram olhar para o céu e agradecer pela minha vida maravilhosa...

Tua vida

Tua experiência

Teu exemplo

Sempre me levaram para um caminho de lutas e conquistas

Porque me ensinaste a enxergar nos olhos as respostas

A usar as minhas mãos para as batalhas

E a usar minhas palavras a cada vitória...

Ensinaste-me a ser alguém verdadeiramente humano

Alguém que erra

Mas reconhece seu erro.

Alguém que machuca

Mas aprendeu a pedir perdão.

Alguém que vence

Mas também sabe perder.

Alguém que pede

Mas sabe agradecer.

Sim pai

Foste tudo isso e mais aquilo que palavra alguma consegue registrar...

Foste meu guia

Minha luz...

Hoje és mais,

És, para mim, divino

És rei

Majestade...

Podes me pedir que eu te darei.

Porque hoje não posso te exigir mais que um forte abraço,

E, através dele, já posso sentir toda a energia que passaste durante todos esses anos de ensinamento.

Obrigada Pai,

Pelo meu pai.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Grão

O consolo é a efemeridade.

Cada grão que escapa por entre os dedos

Não será lembrado em sua essência.

Apenas um grão

Caído

Esquecido

Em algum caminho obscuro...

Com a mão cerrada

Aperto os grãos que me restam

Chegando a esmagá-los, a sufocá-los,

Num gesto de desespero...

Tenho a sensação de que minhas veias vão explodir.

Não importa!

Que venham dores,

Cores fortes escorrendo pelo chão,

Cansaço nos músculos,

Marcas de unhas.

O meu futuro está seguro,

O efêmero não mais levará meus grãos.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Decisão

Foi uma decisão difícil
Noites em claro,
Dias em escuro,
Pensamentos centrados,
Olhos arregalados,
Estresses instantâneos...

Foi como montar e desmontar um quebra-cabeça,
Ou como jogar xadrez nos mais significativos momentos de sonolência,
Como fazer mágica com o baralho para mim mesma.

Nada de novidade,
Nada de extraordinário,
Nada de surpreendente,
Ou de excepcional...

Talvez, por isso, complexa,
Mas esperada...

Escolhi ser feliz!
Por isso lá vou eu ser feliz e já volto!

sábado, 14 de junho de 2008

Mundo sem brilho


Escureceu...
E diante dos meus olhos não consigo perceber a beleza do mundo,
Tudo perdeu o brilho,
Nem a lua ousou clarear essa noite.

Já conheço a casa,
Essa é minha sorte,
Posso caminhar sem me machucar.
No entanto o mundo perdeu o sentido
Perdeu o colorido,
Tudo é escuridão.

Vejo sombras, apenas.
Ouço vozes confusas,
Mas o mundo perdeu o brilho,
Faltou luz.

Meu Deus,
Até quando essa escuridão vai durar?
Parece que estou cega,
Mas não, foi o mundo que escureceu...

Tanta beleza que enxerguei outrora,
Ficou apagada,
Esquecida,
Porque, por ora, a escuridão dominou o mundo.
Mas ficaria tranqüila se eu soubesse
Até quando essa escuridão vai durar...

A dúvida e o nada



A dúvida consome os últimos grãos de sandice
Que existem perdidos no meio do caminho.
Grãos minúsculos,
Vistos apenas por olhos microscópicos
(que não é o caso dos meus).

E entre o ser e o não ser ainda existe a misteriosa opção
Que ainda não consegui desvendar.

Mas, sei que existe.
Talvez invisível, fantasmática...
Mas existe.

Dúvida insana.
Inescrupulosa,
Intrusa.

Penetra sorrateiramente o espaço vazio da mente.
E o que era nada agora é dúvida.

Entre o nada e a dúvida eu escolheria o nada.
E pronto.
E ponto.
Seria a pacífica perfeição vazia.

Entretanto,
O nada foi substituído.
E o substituto não poderia ser pior:
Esse sentimento infernal da dúvida.

Surpreenda-me

Surpreenda-me

Surpreenda-me se puder
Convença-me de que sou como ousas pensar que eu seja,
Diga-me com o olhar, se for capaz,
Use a telepatia se for preciso.
Mas, surpreenda-me!!!

Surpreenda-me, se quiser,
Pois estou cansada dessa linearidade absurda e fantasiosa,
Estou cansada desse caminho que tive a fútil idéia de construir...
Apareça neste caminho! Vamos!
Surpreenda-me, se for capaz!

Não, não quero que me venha com romantismo fajuto,
Nem com frases feitas...
Quero o que denominam
Impossível,
Ilimitado,
Infinito
Ou, até, inexistente...

Isso mesmo!
Quero o que os olhos humanos não têm a sensibilidade de ver.
Quero além!
Por isso, peço:
-Surpreenda-me!

Fale-me o que ainda não me disseram,
Conte-me uma história inédita.
Crie versos, teorias,
Mas surpreenda-me!!!

E clamo por isso, porque sei que és capaz.


quarta-feira, 11 de junho de 2008

Não vejo, apenas sinto

Fecho os olhos para o mundo que tentam me impor a cada instante. Vivo independente dele. Meu olhar está centralizado. Só consigo ver o que egoistamente quero: aquilo que não me incomoda, aquilo que não me surpreende, aquilo que não me emociona. Não procuro emoções fantásticas, nem sentimentos exacerbados. Não procuro nada. Vivo o que a vida me oferece. Não corro atrás dela. Tenho sido orgulhosa. Prefiro não pedir, não exigir. E enquanto meu orgulho vai tomando conta de minha alma, o mundo vai acabando... os pedintes continuam nas mesmas esquinas, parecem que se eternizaram ali... peles macias continuam ganhando espaço na telinha...do outro lado do rio as casas continuam a desabar... e algumas garotas ainda vestem-se de coragem para vender prazer. Mas eu não vejo nada disso. Porque meu mundo está fechado com paredes de concreto. Meu caminho é o mesmo todos os dias. A única coisa que muda em minha vida é meu corpo... apenas meu corpo que vai se decompondo a cada dia. Sinto as marcas do tempo tomando conta de mim. Não as vejo, mas sinto-as. Eis o problema: ainda sei sentir, e a dor do sentir é bem maior que a do ver. No entanto ainda não aprendi a parar de sentir. Será que alcançarei essa dádiva?

terça-feira, 10 de junho de 2008

Hoje

O caminho que me levava ao infinito perdeu a direção e agora procura qualquer sentido que o leve de volta ao princípio. Mas não quero voltar. Não quero desperdiçar o caminho já percorrido... quero aproveitar cada segundo do que foi vivido e reconstruir, a cada passo, o meu próprio caminho. No entanto preciso de algumas coisas. Preciso de pedras que sirvam de base para o chão onde vou pisar. Preciso de rosas para deixar a estrada bela, para os próximos que necessitarem passar por ela. Preciso de água pra matar a minha sede durante a caminhada. Preciso de um pente para ajeitar meus cabelos, de roupas para trocar quando o suor tomar conta de alguma delas, e de sandálias, pois tenho certeza que caminharei muito e desgasterei muitas... Ah!! Vou precisar também de perfurme, pois quero chegar com cheiro bom do outro lado... Necessitarei, também, de caneta e papel para relatar as sensações vividas no caminho... Ah! Mas nada valerá a pena se não estiveres comigo, se não me ajudares a construir o caminho, se não me ajudar a jogar as rosas, ou jogar as sementes para que possam brotar naturalmente. Preciso muito mais de você, do que de tudo isso...

Querer-te e Ter-te

Espero de ti mais do que pode dar-me
Porque sou ambiciosa
E tenho prazer em querer sempre mais...

No entanto, agora, o prazer confunde-se com a dor,
Não tenho sentido prazer em querer,
Pois o quero, mas não o tenho...
Percebi que ter é bem melhor do que querer.
E isso me angustia.

Tenho deitado mais cedo
e acordado mais tarde.
Pois penso que só assim posso tê-lo...
Tê-lo em meus sonhos.
Assim durmo muito mais do que poderia...
Muito mais do que deveria...
Tudo para ter o prazer de tê-lo,
Pois querê-lo agora me entristece.

Tão bom ter-te...
Ter-te inteiro,
Fiel,
Soberano,
Chega a ser divino o meu sonhar...

Agora já vou,
Não posso me demorar,
Preciso ir,
Preciso sonhar!

terça-feira, 3 de junho de 2008

Dentro ou fora do mundo?


Tento, em vão, transformar o que me atormenta. Mas o invés de chutar as pedras, tenho pulado por cima delas, com medo de me machucar. Cada pulo equivale a um grito de covardia diante do que passa diante dos olhos. E nem preciso de meus óculos para enxergar o que se passa, pois minha alma compreende muito bem... compreende tanto que chega a confundir-se diante de tanta contradição e insegurança, as quais insistem em ocupar o espírito abatido que habita em meu corpo. Tanta obscuridade... me parece o labirinto no qual um dia estive inserida. É como se eu tivesse o poder de entrar dentro de mim e afogar-me bem devagar, como se essa demonstração de fraqueza me levasse ao êxtase. E estando dentro de mim, estou fora do mundo. Mas se eu morrer afogada dentro de mim, indiscutivelmente volto ao mundo. E nem sei o que é o melhor, se é viver nele ou fora dele.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Distância impiedosa

Quando não vens, no palco se fecham as cortinas,
O sol se põe em surdina,
O dia acaba sem histórias para contar...

Quando não vens, minha boca seca impiedosamente,
A luz dos meus olhos parece apagar,
Meu sorriso torna-se pálido,
Meu destino é dormir e, talvez, sonhar.

Quisera eu que viesses todas as noites,
Sem eu pedir ou implorar,
Viesses com um sorriso estampado no rosto,
Viesses de braços abertos para me amar.

Maior desejo meu, na verdade, é que nem precisasses vir...
Que já estivesses aqui
Todos os dias
Todas as noites
Sem despedidas ou angústias ao te esperar...

Bom seria se nessa vida
Tivéssemos o poder de ultrapassar
Todos aqueles limites que nos afastam
Da pessoa que escolhemos para amar.

sábado, 24 de maio de 2008

A muralha

Ainda há tempo...
Tempo de reconstruir a muralha
E de fazer dela a proteção de nossas vidas.

Há tempo para erguê-la,
E fazer uma belíssima obra de arte.

Resta tempo para encostarmos na muralha
Durante as tardes de domingo
Deitarmos no ombro e conversarmos sobre a vida.

Ainda há tempo de elevarmos nossa cabana aos pés da muralha,
E nela construirmos nossas vidas,
Criarmos nossos filhos,
Fazer dela o nosso lar.

Acredito que sobra um tempinho ainda para fazermos quadrilha perto da muralha,
E decorá-la com bandeiras de São João.

Tempo pra fazer festa,
Dançar ao redor da fogueira,
Comer tapioca...

Há tempo para tudo,
Mas é preciso antes construir a muralha.
A muralha que protege, que sustenta, que dar sombra.

A muralha que nos impede de ver o que há por trás.
Que faz com que vivamos em paz.

Mas não esqueçamos...
Construir a muralha é preciso
Viver não é preciso!

O último

O início foi muito perto do fim.
O último aceno,
O último olhar,
As últimas palavras,
O último abraço,
E aquele sentimento de coração apertado,
Esteve bem próximo do primeiro beijo,
Do primeiro abraço,
Do primeiro olhar,
Das primeiras descobertas...

O consolo é que o último nem sempre dura para sempre.
“Os últimos serão os primeiros”
Já diziam nossos antepassados.
E levo esse ensinamento como minha lei.
Os últimos instantes podem ser convertidos em primeiros de muitos,
Desde que dentro de nós exista este sentimento de continuidade
De eternidade,
Mesmo que seja uma eternidade enquanto dure...

quarta-feira, 21 de maio de 2008

O desaparecimento

O que era brisa tornou-se tempestade
E o que estava transparente tornou-se obscuro.
Meu olhar ficou incapaz de ver além...
E meus sentidos pareciam falhos.

O chão afastou-se de meus pés,
As nuvens uniram-se numa mesma direção.
A chuva caindo na escuridão
Trazia barulhos posteriores à claridade.

Meus pensamentos, desorganizados, esforçavam-se para alcançar terra firme.
Meu peito, apertado, esforçava-se para não desabar...
Mas a dor aumentava progressivamente
E o mundo parecia parar...

Não existia sorriso,
Alegria,
Harmonia,
Nem sinais de bondade...

Tudo era triste,
Grotesco,
Arrasador.

E assim ia sumindo coisa a coisa
Até restar o vazio,
O vencedor!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O vaso

Dentre tudo o que parecia fantasioso e absurdo apareceste
Fora desconstruindo o concreto, o sério, o previsível
E unido a mim foste capaz de criar e recriar meu mundo
Fazendo-me sonhar e acreditar que podemos usar nossas mãos para modelar o futuro.

Segurando minhas mãos me ajudaste a fazer uma vaso
Vaso pequeno, mas capaz de suportar tantas tempestades,
Temperatura quente, temperatura fria, tremores de terra...

Ah! Como eu queria outros vasos iguais aquele...
Queria um para cada canto da casa
Queria usá-los para guardar flores,
Colocar água...

Mas sozinha não consigo fazê-lo,
Preciso de tuas mãos...
Preciso que tuas mãos guiem as minhas mãos
Para fazermos vasos maiores
Vários vasos
De vários tipos.

Ajuda-me!
Segura minhas mãos?

terça-feira, 6 de maio de 2008

Sou eu...

Quisera eu não saber quem eu sou. Ser um mistério crescente, cheio de glórias, de louvor. Quisera eu compreender-me, na mais profunda essência, justificando cada falha, colocando culpa na religião ou na ciência. Quisera eu ser mais complexa, cheia de códigos e entrelaçados...dar dor de cabeça ao meu amado, despertando curiosidade a toda hora. Quisera eu orgulhar-me do início ao fim da graça de Deus em mim, olhando para dentro e descobrindo facetas únicas, que me motivem a mostrar sempre o melhor de mim.. Não quero permanecer no pretérito mais-que-perfeito. Afinal, sou quase uma mulher Balzaquiana (um quase mais para longe, do que para perto) e preciso romper com o que me aprisiona e me faz ser o que muitas vezes nem sou. Previsível. E por que não? É previsível que hoje eu ame e amanhã odeie... que hoje queira sal, amanhã açúcar... que hoje eu me alegre com o sol, mas amanhã eu prefira a chuva... sim, isso também é previsível. Como é previsível eu começar e terminar antes que acabe... qual o problema? Pior seria terminar antes de começar. Sim, às vezes me utilizo de uma rala filosofia (se é que a filosofia permite tamanho insulto).Mudar? Tentativas em vão. Melhor é esquecer quem sou e tentar me redescobrir a cada dia como se o velho fosse novo, daí viver com a ilusão de que sou uma nova pessoa, transformada a partir de uma luta, um esforço, ou melhor, uma batalha comigo mesma. Batalha esta que me traria ao pódio como vencedora... pois, afinal, a luta era eu contra eu mesma...e mesmo que o placar fosse zero x zero, mesmo assim, eu seria vitoriosa. Louca? Bom, aqui tenho minhas dúvidas. Nem sei o que prefiro: ser ou não ser? Quanto a isso ainda não tenho conceitos formados, se é que loucos têm conceitos. Assim prefiro não ter nada a declarar. E não me julguem...pois em algum momento da vida a gente que ter nada a declarar... o nada também precisa ser declarado... e não só pelos que são culpados... acredito que os inocentes também têm esse direito. Tudo bem, deixo com vocês essa árdua tarefa... a partir daqui, quem sou, fica por conta de vocês. Mas não exagerem... vamos com calma.

Sou eu...

Quisera eu não saber quem eu sou. Ser um mistério crescente, cheio de glórias, de louvor. Quisera eu compreender-me, na mais profunda essência, justificando cada falha, colocando culpa na religião ou na ciência. Quisera eu ser mais complexa, cheia de códigos e entrelaçados...dar dor de cabeça ao meu amado, despertando curiosidade a toda hora. Quisera eu orgulhar-me do início ao fim da graça de Deus em mim, olhando para dentro e descobrindo facetas únicas, que me motivem a mostrar sempre o melhor de mim.. Não quero permanecer no pretérito mais-que-perfeito. Afinal, sou quase uma mulher Balzaquiana (um quase mais para longe, do que para perto) e preciso romper com o que me aprisiona e me faz ser o que muitas vezes nem sou. Previsível. E por que não? É previsível que hoje eu ame e amanhã odeie... que hoje queira sal, amanhã açúcar... que hoje eu me alegre com o sol, mas amanhã eu prefira a chuva... sim, isso também é previsível. Como é previsível eu começar e terminar antes que acabe... qual o problema? Pior seria terminar antes de começar. Sim, às vezes me utilizo de uma rala filosofia (se é que a filosofia permite tamanho insulto).Mudar? Tentativas em vão. Melhor é esquecer quem sou e tentar me redescobrir a cada dia como se o velho fosse novo, daí viver com a ilusão de que sou uma nova pessoa, transformada a partir de uma luta, um esforço, ou melhor, uma batalha consigo mesma. Batalha esta que me traria ao pódio como vencedora... pois, afinal, a luta era eu contra eu mesma...e mesmo que o placar fosse zero x zero, mesmo assim, eu seria vitoriosa. Louca? Bom, aqui tenho minhas dúvidas. Nem sei o que prefiro: ser ou não ser? Quanto a isso ainda não tenho conceitos formados, se é que loucos têm conceitos. Assim prefiro não ter nada a declarar. E não me julguem...pois em algum momento da vida a gente que ter nada a declarar... o nada também precisa ser declarado... e não só pelos que são culpados... acredito que os inocentes também têm esse direito. Tudo bem, deixo com vocês essa árdua tarefa... a partir daqui, quem sou, fica por conta de vocês. Mas não exagerem... vamos com calma.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O tempo passou


7 nunca foi, para mim, um número bom. Talvez, por isso, tenha surgido (não do nada), uma forte lembrança do que acontecera há 7 meses. O tempo passa, os corações acalmam e a mente se acostuma com a ausência. E, assim, a vida continua...o sol desponta no horizonte da mesma forma que antes. A revolta perde seu lugar para um sentimento sereno e tranqüilo que se alimenta de lembranças boas, simplesmente lembranças. E aquele sentimento de inquietação, ânsia de justiça, indignação... parece que é jogado ao mar como cinzas...
Sonho com o dia em que nossas dores sejam armas contra todos os sinais de morte em nosso meio... armas contra aquilo que afeta nosso irmão hoje e pode nos afetar direta ou indiretamente amanhã... sonho com o dia que nossas dores nos incomodem mais a ponto de tornar-nos melhores lutadores, com mais fortaleza, garra, disposição e sem medo.
Enquanto esse dia não chega, vamos perdendo nossas preciosidades... nossa esperança, nossa alegria... enfim, as pessoas que passam, ficam ou marcam nossas vidas...todas, com sua devida importância. Saudades, Conceição!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Foste...


Chegaste feito brisa
Sumiste feito fantasma
Entre o “vir” e o “ir”
Foste mais que o sumiço do “v”.

Capaz de construir uma muralha
Enfeitada de rosas pintadas por tuas mãos
Criaste uma barreira gigante
Que nem espaço sobra para se lutar em vão.

Início cores,
Início flores,
Final dores!

Tentaste apaziguar cada instante
Com o dom de proferir palavras belas...
E assim contornava cada sonho
Com pincel de poesia
Tinta verde e harmonia.

Desenhaste com leveza
Fadas, bruxas e duendes
Maçãs, janelas e espelhos,
Chuva, mar, caminhos...
Construindo um mundo fantástico
Impossível de destruir...

No entanto, saíste do mundo
Deixaste-me só
Por mais que eu veja cores
E flores
Falta vida,
Falta amor.

domingo, 20 de abril de 2008

Tempo


O tempo vai se fechando pontualmente como os antigos portões de embarque. Cada pessoa no horário e espaço previsto. Correria para não se atrasar. O tempo vai moldando corpo e alma, deixando marcas visíveis e abrindo frestas pelo caminho percorrido. Constrói tendas para o descanso, disponibiliza carroças para a cavalgada, empresta sandálias para a caminhada...
Tão coerente, correto, sério, sincero e fiel. Capaz de curar feridas graves, sem prescrição de drogas ou qualquer produto químico que afete além dos neurônios a alma. Capaz de rejuvenescer o espírito, fortificar o corpo, alimentar a mente. Capaz de vencer os medos que insistem em cambalear, bêbados, pelas estradas da vida.
E assim posso imaginar, ver e sentir os portões fechando...e junto com ele o medo aumentando, a vida correndo, as casas passando, a lembrança aflorando e tudo se confundindo, como se os objetos se misturassem aos sentimentos... como se os sentimentos ganhassem forma, se tornassem concretos... e tudo o que os meus olhos vissem, afetasse diretamente minh’ alma.
Vejo os portões fechando e sinto minhas pernas pararem diante do fato. O peso de cada uma me impede de ir adiante... me obrigam a estacionar em espaço perigoso, não propício à reflexão. Resta-me parar... enfrentar perigos e esperar meu espírito ficar leve para ver se ainda há tempo, antes do portão se fechar.

sábado, 19 de abril de 2008

O queres de mim?

Querem me formatar!!!
Me selecionar,
Talvez até me deletar!

Querem definir minhas formas,
Minhas curvas,
Meus pontos.

Querem me transformar
Me fazendo chorar,
E ter receio de mim.

Quando vão entender?
Sou assim...
Desligada,
Despreocupada,
Desregrada,
Des...
Ah!!! Todos os des ...possíveis....

Não te obrigo a amar-me
Mas tenho o direito de ser eu.

Ai meu Deus!
Pronto, eu não posso ser eu.
E agora?

Serei qualquer coisa,
Uma máquina, talvez,
Na qual se aperte uma tecla,
E pronto,
Faço tudo na mais plena perfeição?

Quero ter vida...
Errar,
Acertar,
Cair,
Me reconstituir.

Quero ser humana.
Luto para isso todos os dias.

Você quer isso,
Eu quero aquilo...
Vai entender?
Vou viver...
Tentar esquecer do que tu queres de mim.


Palavras





















Quanto vale cada palavra?
Vale mais que pensamentos?
Mais que lembranças?
Que tormentos?

Qual a força de uma palavra?
É capaz de construir sentimentos, assim como destrói?
Aliviar dores emocionais?
Costurar corações despedaçados?

Quando se deve esquecer das palavras?
Quando não nos fazem bem?
Quando nos dizem a verdade indiscretamente?
Quando saem livremente da boca, da alma e do coração?

Quando precisamos de uma palavra?
Quando o beijo não mais responde?
Quando olhar já se esconde?
Quando a angústia invade o peito?

Quantas palavras são necessárias...
Para se convencer alguém de um sentimento
Para ser convencido em meio a um tormento
Que nada acontece em vão?

Tantas palavras são ditas,
Sentidas,
Interpretadas,
Vividas,
Sem se pensar....

Palavras pequenas,
Grandes,
Simples,
Complexas,
Nunca deixam de ser belas
E avassaladoras.
Palavras, quem bem soubesse usá-las
Levaria sempre consigo,
Como triunfo,
Arma,
Ou escudo.

Palavras... simplesmente palavras....

Túnel


Disseram-me:
-No fim do túnel existe uma luz.
Caminhei incansavelmente tentando encontrar o que me deram esperança de existir... mas não enxerguei nem mesmo o túnel. Encontrei somente um labirinto... aquele no qual já me perdi tantas vezes e que, mesmo assim, ainda não desvendei a saída. Parece-me que o labirinto está em constante transformação, movimenta-se, balança, me deixa zonza, não consigo fugir...
Quem dera se eu tivesse achado o túnel, ao invés do labirinto... eu seria capaz de caminhar léguas para achar essa luz, que por algum momento tive a ilusão de existir...
Talvez, quando eu encontrar a saída, ainda tenha forças para buscar o túnel... mas para isso é preciso que não me canse aqui nesse labirinto, que aos poucos escurece, anoitece, entristece... quero encontrar o túnel, quero encontrar a luz!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Leve-me


O barulho de tuas ondas me dá a certeza da efemeridade das coisas. Olho cada onda com cautela e apreciação, porque sei que não as verei mais. Isso me anima e me entristece. Quisera eu poder ver mais de uma vez aquelas ondas belas e altas, que trazem consigo uma brisa suave.
Difícil aceitar que tudo é efêmero... a onda nunca será a mesma. Pudera eu acompanhar ao menos uma onda em seu percurso... e com ela enfrentar o mar alto, o vento forte e a profundeza do mar. Descobrir o que há além do que nossos olhos alcançam, enxergar o intocável, sentir a água pura e cristalina no meu corpo. E, assim, eu acompanharia esta onda até os confins do mundo, pela vida inteira, sem importar que destino teríamos, por quais mares passaríamos, nem o que encontraríamos no caminho. Simplesmente seguiria a correnteza do mar e me deixaria levar sem medo.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Angústia

Multidão que atormenta a mente
Embaraça a alma
Cansa o espírito

Barulho em meio ao silêncio
Gritos de tormento
Angústia, tristeza, dor...

Alvoroço invadindo o corpo
Calor
Cansaço
Tontura.

Não se sabe em que estação desceu a realidade,
Se ela se perdeu na feira,
Ou no centro da cidade...
Nem se sabe, ao menos, se vale a pena se saber onde se perdeu.

Viver de fantasia?
Talvez seja a mais sensata solução!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Minha dor...

Estou com raiva de você,
Deixaste marcas terríveis em mim...
Dores inquietantes,
Nenhum remédio foi capaz de curar.

Deixaste-me sem jeito,
Muitas vezes até sem palavras.
A poesia parecia afastar-se de mim,
Por sua culpa,
Sua tão grande culpa...

Minha voz perdeu o tom,
A beleza,
A suavidade.

Tive que me adaptar a uma nova vida...
As pessoas me olhando surpresas...
Com sorrisos de piedade ou desdém...
Culpa sua!!!!

Mas o consolo é que tudo passa,
Embora seja só o começo
Ainda tenho fé que um dia me livro
De você... maldito aparelho!!!

Descoberta

Descobrir-te foi a melhor façanha realizada por mim...
Descobrir seu corpo,
Descobrir sua alma...
Enfim, descobrir-te...

Nunca imaginei descobrir terra tão rica,
Farta de preciosidades que estão acima de qualquer matéria...
Preciosidades que nunca tive a oportunidade possuir...
Raridades que pretendo guardar no meu museu de sentimentos.

Queria mostrar ao mundo minha descoberta,
Mostrar aos suicidas que a vida tem sentido,
Que é preciso ter esperança,
(Ou não,)
Para que assim possamos encontrar nosso tesouro perdido.

Queria poder pegar na tua mão,
Olhar nos teus olhos,
E dizer que descobri a ti e a mim...

Você, a descoberta maior,
Ouro que brilha e faz brilhar meus olhos só em sonhar com o encontro,
Alegria que me faz idealizar o amanhã,
Força que, mesmo longe, está ao meu lado, alimentando minha alma, meu espírito.

Através de ti, pude me descobrir...
Descobrir-me como mulher,
Como companheira,
Como amante.

Ah!!! Como foi gostoso te descobrir,
Descobri as tuas metáforas,
A beleza de tuas palavras,
E o que há escondido nas tuas imagens...

Descobrir-te, realmente, foi façanha...das melhores!

domingo, 30 de março de 2008

Lembranças


Amanheceu... e uma chuva de lembranças do visto e do não vivido invadiu-me o peito como os raios solares que penetram a pele quando não se há bloqueio. Belas imagens passando fotograficamente pela minha mente. Mas onde fica a minha mente? Na cabeça? No coração? Nas pernas? Meu corpo todo sente. No tempo quente sinto aquele frio que percorre minha matéria inteira. São “apenas” lembranças do não vivido... que vão se misturando com saudades, ânsias, vontades exacerbadas. Lembranças do que vivo e do que viverei.

Deixaste Morrer

Por que não teus pés?
Ou tuas mãos?
Tinha que ser teus olhos?
Por que não foi tua perna direita?
Teu braço esquerdo?
Ou até mesmo o coração?
Mas, os olhos... os olhos não...
Por que deixaste isso acontecer?
Por que não lutaste com os membros que permanecem intactos?
Por que não usaste essa força que te faz aceitar a tua situação atual?

Oh! Não... teus olhos...
Tua visão de mundo...
Como deixaste quebrar-se
Deixaste morrer em ti
A única coisa que comprovava a existência de tua alma...

Deixaste morrer teus olhos,
Deixaste morrer tua alma...

Crime


Chuva de idéias e tormentos
Banhando corpo e alma
Desejos fúteis
Obrigações exacerbadas

Encarcerada sem direito à cela especial
Perdida entre culpas diversas
Crimes inafiançáveis

Delito contra si
Destruição do próprio coração
À queima roupa

Mente inerte
Corpo sem forças
Coração despedaçado

Eis o fim de uma batalha
Vestir-me-ei para a próxima.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Obra Prima

Encarcerada em meu casulo
A vida me leva a folhear páginas
Que por hora procuro inutilmente compreender...
As palavras, antes belas, fascinantes,
Perderam o brilho pra você.

Preferiria folhear você...
Como se fosse uma história de suspense
Na qual eu pudesse viajar a cada expressão lida.
Viajaria sem rumo
Buscando descobrir cada curva, cada traço...
Deixaria as minhas mãos percorrerem pelo teu corpo
Tentando arrancar ao menos um suspiro teu.

Leria corpo e alma,
Interpretaria teus movimentos
Discutiria teus prazeres...

Cada página, uma descoberta,
Um sentimento novo aflorando suavemente,
Uma marca deixada nas páginas folheadas.

Quem me dera ler-te,
Quem me dera ter-te em minhas mãos e acariciá-lo sem medo
Percorrer as tuas linhas com olhos e palavras...
Fazer da tua felicidade a minha.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Ontem...

Na tua ausência
Viajei com Robinson Crusoé
Estive em alto-mar
Vivendo as perturbações de uma tempestade,
Pudera eu estar contigo,
Enfrentando a tempestade de mãos dadas
Ouvindo aquelas doces palavras
Que só tu tens sensibilidade para me dizer.

Saudades de ti...
Das noites em que obedecíamos nossos corações,
Vivendo tudo aquilo que sonhamos viver,
Fortificados pelo poder das palavras...
Saudade do que não vivemos,
Das lembranças que idealizamos construir...
Vontade angustiante de ultrapassar os limites de tempo e espaço
Simplesmente para desejar-te “boa noite”.

Mas, estou com Robinson Crusoé,
E, hoje, ele é meu consolo
Até eu adormecer na ânsia de acordar
Para novamente viver o nosso sonho!

segunda-feira, 10 de março de 2008

Evolução

Estou vencendo a cegueira...
Não necessariamente voltei a enxergar,
Mas encontrei uma maneira de ver o mundo...
É só eu fechar os olhos... e, então, vejo tudo o que desejo.

Quanta beleza vejo,
Vejo um caminho longo e belo,
Árvores gigantes,
Crianças correndo,
Vejo luzes...

Chego a sentir um vento forte batendo em meu rosto.
Tudo me parece real...
Por isso escolhi este mundo para viver.

Cegueira


Estou cega!
Caminho tropeçando em pedras, objetos...
O mundo surge em minha frente, mas não o vejo.
Ontem bati a cabeça
Hoje machuquei o joelho
E amanhã, meu Deus, o que será?

Minha alma está fraturada
E a angústia se apossa de meu corpo
Que transpira no frio.

Como não pude perceber antes?
Estou cega!

Se tivesse percebido poderia ter me esquivado, me protegido,
Poderia ter repousado num lugar tranqüilo
Poderia ter evitado dores, machucados...

Estou cega!
Cegueira eterna, talvez.
Não posso ver, mas o meu consolo é ainda poder sentir.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Olhares

Os teus olhos estavam negros
Negros como a noite que encobria nossos corpos
Tão negros quanto os meus pensamentos sobre o nosso futuro
Negros como a parte do meu coração que a ti pertencia.

Os teus olhos estavam longe
Longe como aquela estrela apagada,
Longe como a terra nunca antes pisada,
Longe como o futuro feliz que me aguarda.

O teu olhar estava inquieto
Como de uma criança que está ganhando a visão,
Inquieto como o de uma pessoa sem direção
Inquieto como a minha alma nesse instante.

Percebi o desencontro dos nossos olhares
Que não tinham nem um ponto neutro em comum
Meu olhar triste e desanimado
O teu buscando um novo rumo.

O tempo vai passar,
E um dia eles vão se reencontrar,
Mas o olhar nunca mais será aquele que se idealiza encontrar...

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Restaurando...

Estou lapidando meu cérebro!
Não há mais espaço.
Lembranças inoportunas deverão ser liquidadas.
O objetivo é fazer com que as informações velhas cedam seus lugares para as informações novas.
Um dos critérios de seleção refere-se à intensidade da dor que se tem no instante da recordação.
Quanto maior a dor, maior a probabilidade da informação ser deletada.
Levar-se-á em consideração, também, quais informações (embora inúteis) servirão para o seu futuro... informações estas relacionadas à carreira profissional (afinal é o único campo pelo qual somos obrigados a fazer algum esforço)... assim, este tipo de conteúdo permanecerá no cérebro, no entanto, ficará na 2ª classe.
Na 1ª classe ficarão lembranças futuristas. Sonhos constantemente lembrados que acabaram conquistando um lugar especial, superior às lembranças reais.
E, então, peço licença a Cecília e digo: “Tudo estará perfeito, praia lisa, águas ordenadas... meus olhos secos como pedras e as minhas duas mãos quebradas”.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Escrevendo sobre escrever...

Escrever, para mim, é derramar sentimentos num rio enorme... e, assim, a correnteza vai levando todas as palavras para a terra do nunca, onde ninguém sabe ao certo quem será banhado pela água que corre. Escreve-se porque chega um momento em que as palavras preenchem a nossa alma de tal forma que começam a transbordar o nosso espírito...e é preciso transformá-las em matéria antes que sejam perdidas no imenso infinito de nossas mentes. Escrevo sem pensar na forma, na estética ou qualquer coisa que possa bloquear a verdade de meus escritos. Escrevo de forma simples... somente pelo prazer de registrar meus sentimentos (vezes ingênuos). Por que registro? Porque gosto e porque posso fazê-lo. E é com gozo que faço o que minha capacidade permite fazer. Meus escritos, vezes tolos, vezes sem nexo, mostram um pouco de quem sou. Não! Não me considero tola, mas meus escritos o são. Isso porque apresentam minhas idealizações, meus instantes de febre, minha loucuras mega-passageiras, minhas raivas inconstantes e minhas inquietações eternas... Amo tudo que se relacione à arte...criar e recriar é o que me faz ter entusiasmo pela vida. Por isso aceito críticas, pois sei que me ajudarão a repensar as minhas idéias...

Escuridão

Na escuridão eu era mais feliz
Reconhecia-o pelas minhas mãos,
Na descoberta de cada curva de teu corpo,
Sentia-me mais amada.

Meu erro foi abrir a janela
E deixar uma fresta de luz entrar...
Luz envolvente,
Sublime cor do luar,
Transparente, mas profunda,
Invadiu-me disposta a me completar.

O valor do olhar agora inquestionável
Fez- me perceber o que minhas mãos não viram,
Teu semblante antes meigo e sereno,
Parece agora amargo e frio.

Por que abri a janela?
Se mais feliz eu era na escuridão?

Tento agora fechar a janela,
Mas a fechadura quebrou.
Por mais que eu tente deixá-la ao menos encostada,
Quando o vento forte surge em meio ao nada,
Bate com força na janela,
Deixando um barulho inquietante,
E a luz continua a invadir o quarto escuro...

E fico horas tentando dormir,
Por mais que seja difícil,
O melhor é dormir com a frieza da janela aberta.

Labirinto

Perdida dentro de mim
Caminho no escuro de meu labirinto
Batendo desesperadamente em cada parede, em cada esquina...

Almejando uma saída
Sinto-me sufocada.
As paredes me parecem muralhas
Que estreitam-se a cada passo meu.

Vezes desmaio na ânsia de sonhar.
Em vão luto para não acordar
Tentando me achar naquele sono profundo...

Novamente acordada, vejo-me em meio ao labirinto
E vou farejando um ar puro
Que não tenha paredes, muralhas...
Que eu me sinta livre ao menos por um instante...

Tempo perdido,Desejo não concedido!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Bêbada

Sinto-me bêbada,
Como se estivesse numa dimensão superior a todos os que habitam esse planeta
Como se minha mente estivesse em férias
E o meu corpo fosse perdendo as forças devagar...

Meu estômago, antes eufórico,
Parece que agora se acalma sem a ajuda da ciência.
Meus olhos, tristes e profundos,
Olha o mundo ao redor, mas não o vê.

Sinto-me bêbada,
E há dias sonho com a ressaca que não vem,
Quisera esta ser como a do mar:
Avassaladora, dinâmica e transformadora...

Será que me tornei alcoolista?
E esse sentimento que estaciona entre a dor e a angústia, nunca vai passar?

Quisera eu ter o poder de controlar esses sentimentos
(se é que são sentimentos).
Pudera eu acordar de um sonho
Um sonho bom.

Não, não quero acordar,
Entre o sonho e a lucidez vou permanecer perdida.
E no dia em que eu descobrir
Qual bebida me deixou assim,
Sem dúvida, minha vida finda.

Incomoda-me

Incomoda-me o olhar centralizado,
o olhar enquadrado,
a mente prisioneira,
a maturidade aparente.

Incomoda-me a falta de sensibilidade,
o pensamento pequeno,
a falta de ousadia.

Incomoda-me quem não consegue ver através de sua janela suja...

Incomoda-me quem do mar só abstrai as ondas...

Como pode alguém enclausurar-se numa bolha de pensamentos vãos,
E fechar-se para um longo desafio?
Como aceitar que o medo seja mais forte do que o sentimento que avassala a vida?

Incomoda-me aqueles que não se incomodam com a acomodação.

Travessia

Pintamos o nosso caminho
Com tintas imaginárias
E pincelamos tudo o aquilo que desejamos ver.

Até a nossa própria dor nós pintamos
Conscientes da consciência das obras de artes
Vamos moldando nossa travessia
Com flores ou espinhos,
Até chegar o momento de perguntarmos:
-O que eu fiz para merecer isso?

Só temos direito a uma travessia.
Não há como voltar para observarmos as nossas falhas,
Só nos restam as boas lembranças
Para que, cientes de nossos erros, modifiquemos nossa história.

Podemos fazer novos quadros!
Podemos mudar as cores,
Mudar a paisagem,
Aprender novas técnicas de pintura...

Muita coisa pode ainda ser feita,
Desde que dentro de nós exista sensibilidade...
Inspiração,
Luz...

Só vemos aquilo que escolhemos ver!

Labirinto

Labirinto
"Labirinto" me reporta a curvas, traços sinuosos de uma curva em volta de si mesmo, sensualidade sombreada por uma muralha de tijolos de pano, vestes que escondem, protegem mas também aprisionam...rs"